sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O quadril e a lesão de joelho III

Hoje venho falar de mais fatores biomecânicos que influenciam de forma recíproca o quadril e o joelho. Vamos lá.

No primeiro "O quadril e a lesão de joelho" abordei um estudo científico que defende o fortalecimento dos músculos do quadril na prevenção e tratamento da SDPF - Síndrome da Dor Patelofemural - ou condromalácia.
A fraqueza do músculo glúteo médio foi citada como uma das causas do aparecimento dessa dor.

No segundo, "O quadril e a lesão de joelho II", foi feita uma relação com o ângulo Q, o que explica a maior incidência da SDPF em mulheres, sob o ponto de vista biomecânico.

Nesse terceiro vou citar mais um fator de relevância, quando se trata desse tipo de patologia.
É muito importante pensarmos na causa das lesões que aparecem sem trauma direto.


Alguns de vocês, que me seguem, são fisioterapeutas, outros, ex-alunos e alguns são interessados na sua saúde e bem estar. Então me expressarei de forma que possa ser útil  para todos vocês.

Quem de vocês já sentiu encurtamento nos músculos da parte posterior da coxa em algum momento da vida?
É bem possível que a resposta seja positiva para várias pessoas.
Eles são responsáveis por dificultar que nossas mãos cheguem perto do chão quando estamos de pé e tentamos tocar nossos pés ou o chão com uma flexão de tronco a frente, sem dobrar os joelhos.
Para um grande número de pessoas isso é difícil e doloroso.
Os nomes dos músculos que aí se localizam são : bíceps crural ou bíceps da coxa, semi-tendinoso e semi-membranoso. Como grupo são conhecidos como : isquio-tibiais.

Eles são volumosos e com funções importantes mas antagônicas entre si; ao mesmo tempo que nos mantêm eretos contra a gravidade, portanto com função postural que exige dele manutenção de tensão durante longos períodos e ao mesmo tempo, com função dinâmica ou auxiliando o glúteo máximo na extensão do quadril ou flexionando o joelho e rodando a perna para fora e para dentro. Intrincadas as ações sobre o joelho não?
Isso não parece explicar a grande incidência de lesões tanto no joelho como nesses músculos?

Há uma outra questão a se levantar que é de extrema importância. Os isquio-tibiais, fazem parte de uma cadeia mio-fascial, vide os trilhos anatômicos, e auxiliam na manutanção da postura ereta. Se eles têm esse papel suas fibras apresentam características comuns a esse tipo de tarefa. Suportam contrações por muito tempo, mas ao mesmo tempo são solicitados em atividades explosivas, como correr por exemplo.

Correr não só os atletas precisam, qualquer um de nós pode precisar ou com certeza já precisou um dia, até para pegar um ônibus ou atravessar um sinal. Mas há os que adotam a corrida como esporte ou como atividade física.

Se esse grupo de músculos desenvolver em algum momento retração muscular que nada mais é do que encurtamento crônico, pode causar modificação no posicionamento do ilíaco - osso do quadril - e isso pode vir a trazer problemas na frente do joelho.
Esse esquema foi retirado do livro : "Pubalgia" de Leopoldo Busquet .
Nele se explica, de forma simples e concisa, o mecanismo de lesão que pode gerar uma "tendinite"patelar, que  na realidade tem origem na retração dos isquio-tibiais, que posteriorizam o ilíaco , que por sua vez tensiona o músculo reto anterior da coxa que agora se sente mais "esticado do que antes" e joga a sua tensão na articulação do joelho.
Pode-se facilitar o pensamento visualizando-se um sistema de polias.

Lembram-se que todo o corpo é interconectado.

Mais uma vez fica a ressalva para que raciocinemos, levando em conta o todo. Só assim alcançaremos os resultados que buscamos.

Com certeza eu não falaria desse assuntos se eles não fossem motivo de questionamentos frequentes em aulas ou em cursos e ainda mais importante, se essas lesões não fossem tão frequentes e afastassem tantas pessoas de atividades físicas que amam fazer.
De pessoas comuns a atletas renomados ninguém está livre desse tipo de problema.

Então, em vez de "esperarmos para ver" devemos nos antecipar prevenindo esse tipo de lesão através de uma boa análise postural em estática e dinâmica prévia ao início das atividades, sejam elas recreacionais ou atléticas.  

Um comentário:

Bernardo Pinheiro, Ft. disse...

Patrícia,
mais uma vez, vc coloca em discussão uma questão bem pertinente.
Devemos nos preocupar em avaliar e tratar as estruturas as quais estão envolvidas com a causa da dor. E não apenas com os sintomas (local da dor).
No segmento explorado por vc, devemos estar atentos as alterações do quadril, como cápsula / ângulo Q, M. ísquios-T.; alterações posicionais do ilíaco (como vc falou), além de uma possível diminuição da dorsi-flexão, entre outros possíveis fatores.
Enfim, como vc grifa de forma repetida (e com razão e propriedade), devemos avaliar e tratar de maneira global. Combatendo aquele tipo de raciocínio clínico, o qual nos é passado na graduação (e muitas vezes na especialização), que visa avaliar e tratar nossos pacientes de maneira segmentada.
Abs.